POBREZA DE ESPÍRITO



POBREZA DE ESPÍRITO

Muitos homens e mulheres pobres se voltam para Deus instintivamente: assim como Gaudi nos momentos felizes ou como Agustino quando precisou de esperança. Isso acontece porque eles vivenciam um outro tipo de pobreza que muitas vezes acompanha a pobreza material: o entendimento  radical sobre a dependência de Deus também chamado de “ pobreza de espírito”.

Pobreza de espírito é um conceito subestimado por muitos grupos religiosos e espirituais. “ Bem-aventurados os pobres de espírito”  é o primeiro ensinamento de Jesus no Sermão da Montanha, no relato do Evangelho de Mateus (5:3). Mas, para muitos cristãos, essas palavras continuam sendo tão misteriosas quanto foram quando Jesus as pronunciou pela primeira vez. Se você perguntar a um cristão praticante se ele deveria se ele deveria ajudar os pobres, ele dirá que sim. Se perguntar se ele deveria ser um pobre de espírito, ele provavelmente reagirá com espanto.

Eu talvez tenha feito meu primeiro contato com a pobreza verdadeira no leste da África, mas de maneira indireta.

Embora eu estivesse animado para trabalhar em Nairóbi, quando cheguei senti uma solidão arrasadora por estar longe de meus amigos e familiares, fiquei preocupado de não conseguir permanecer lá pelos dois anos previstos e com medo de pegar alguma doença tropical rara.

No princípio, fui designado para funções burocráticas nas quais cuidava apenas da papelada. Mas eu tinha ido ao Quênia para lidar com a parte burocrática? Em poucos meses em começaria a trabalhar com os pequenos negócios, a melhor ocupação que já tive na vida, mas, naquela ocasião, a minha vida andava chata e solitária.

Nessa época, meu diretor jesuíta enviou um livro para me encorajar: Poverty of Spirit, de Johannes Baptist Metz, um teólogo católico alemão.

Metz fala da pobreza de espírito como sendo as limitações que todos os seres humanos enfrentam no dia a dia. Ela é o despertar espiritual que vem da consciência não só dos dons e talentos que nos são dados por Deus e que nos proporcionam uma gratidão confiante, mas também da consciência de nossas limitações.Ter pobreza de espírito significa aceitar que não temos poder para mudar alguns aspectos de nossa vida. Ele escreve: “ Somos todos membros de uma espécie que não é autossuficiente. Somos criaturas atormentadas por dúvidas e inquietações intermináveis e por corações insatisfeitos.”

Ter pobreza de espírito significa também aceitar que todos nós enfrentamos decepções, dor, sofrimento e, por fim, a morte. Embora isso possa ser óbvio para qualquer um que já refletiu seriamente sobre a vida, a cultura ocidental sempre nos estimula a evitar, ignorar ou negar esta verdade básica: nós somos limitados e mortais. Nós somos humanos. E um componente dessa humanidade é que às vezes nós sofremos e não temos controle sobre o que acontece conosco, com os outros e com o mundo à nossa volta. Aceitar isso significa chegar mais perto da pobreza de espírito.

Ao contrário da pobreza material que coloca na miséria centenas de milhões de nossos semelhantes, a pobreza espiritual é uma virtude a ser perseguida. Eu disse que não romantizo a pobreza material: já atravessei esgotos a céu aberto e pilhas de lixo pobre, já comi com refugiados pobres em ambientes insalubres e convivi com todos os tipos de carências e enfermidades. Essa pobreza jamais pode ser romantizada.

Pobreza de espírito é outro jeito de falar de humanidade. Sem ela, não admitimos que dependemos de Deus, somos tentados a fazer tudo sozinhos e ficamos mais propensos a nos desesperar quando fracassamos. E, porque a pobreza de espírito reconhece a nossa fundamental dependência de Deus, ela está no âmago da vida espiritual.

Quase no fim de seu livro, Metz escreveu: “ Assim, a pobreza de espírito não é somente uma virtude entre muitas. Ela é a motivação oculta de toda ação transcendente, a raiz de todas as virtudes teológicas.”

FONTE: LIVRO A SABEDORIA DOS JESUÍTAS PARA ( QUASE) TUDO
ESPIRITUALIDADE PARA A VIDA COTIDIANA
JAMES MARTINS
EDITORA: SEXTANTE




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