TENHO MEDO






TENHO MEDO


 “ Tenho medo do mundo inteiro”, disse o poeta Pablo Neruda. O medo da vida é a doença favorita do século vinte”, acrescenta o autor William Lyon Phelps. De modo que quando descolamos nossa energia e nosso foco para nossas raízes, é provável que o primeiro sentimento que venha à tona seja o medo.
Todos os sistemas de sabedoria, religião e filosofia concordam em constatar que o maior desafio de nossas vidas somos nós próprios. Se temos medo? É claro que sim. De novo é um poeta que enxerga o que todos nós precisamos ver.
Escolha um lugar silencioso, respire fundo duas ou três vezes e leia em voz alta este poema de Pablo Neruba. A leitura irá desacelerá-lo, fazendo com que ele se cale mais profundamente dentro de você.
  

                                                              MEDO
                                                   De  Paulo Neruda


Ficam todos atrás de mim para eu me exercitar,
entrar em forma, jogar futebol,
me apressar, até ir nadar e voar.
Bastante razoável.

Ficam todos atrás de mim para eu me acalmar.
todos marcam consultas médicas para mim,
me olhando daquele jeito inquiridor.
O que é isso?

Ficam todos atrás de mim para eu fazer uma viagem,
entrar, partir, não viajar,
morrer, e de forma alternativa, não morrer.
Não importa.

Ficam todos vendo coisas esquisitas
Nas minhas entranhas, subitamente chocados
Com os radiopavorosos diagramas.
Não concordo com eles.

Ficam todos escarafunchando a minha poesia
Com seus garfos e facas incansáveis,
Tentando, sem dúvidas, encontrar uma mosca.
Tenho medo.

Eu tenho medo do mundo inteiro,
Medo da água fria, medo da morte.
Sou como todos os mortais,
Incapaz de ser paciente.

E assim, nesses dias breves e fugazes,
vou tirá-los da cabeça.
Vou me abrir e me encarcerar
com meu inimigo traiçoeiro,
Pabro Neruda.


O que é que Neruda nos diz sobre o medo? Eis como interpreto esse poema: “ todo mundo está tentado me dar conselhos. ‘ Faça isso, faça aquilo! Não faça isso, não faça aquilo!’ Sei que estou doente, mas ainda estou aqui e ainda estou no comando! De modo que vou ignorar todos vocês e fazer o que é mais importante num momento como esse: encarar os meus medos e encarar o que sempre foi o meu desafio mais sério eu mesmo.”
Visualizo Neruda com seu semblante velho e sábio, inclinando-se para nós e murmurando nos nossos ouvidos: “ Estou escrevendo para você, você que está lendo este poema. Faça isso já. Dedique tempo para si mesmo agora, enquanto ainda pode.”
Talvéz você se pergunte: “ Agora que estou parado, nem que seja por um instante, como posso certeza de ficar legal e não ter que enfrentar mais do que posso?”
Pois eu lhe respondo: parar  será absolutamente seguro quando os medos não o dominarem  mais. Isto não quer dizer que eles vão desaparecer, mas que não irão controlá-lo. E por mais paradoxal que pareça, ao ir ao encontro dos seus medos, você se libertará deles.
Saímos de nossos medos entrando neles. Entrar neles envolve três processos simples: observar, identificar e contar. Seus medos diminuirão gradualmente e perderão a força à medida que você for aprendendo esses três processos. Primeiro observe os seus medos; depois identifique-os; e por fim conte a história desses medos para outra pessoa.
Lembre-se da história de Naaman. Era o grande general que hesitava em curar sua doença seguindo o conselho do profeta, banhando-se sete vezes no rio, porque aquilo lhe parecia simples demais. Eis uma boa hora para recordar a lição que aquela história nos transmite: a importância de respeitar o poder dos atos simples. Por favor, não subestime a força desses atos simples da alma: observar, identificar e contar.

FONTE: LIVRO A ESSENCIAL ARTE DE PARAR
DR. DAVID KUNDTZ
EDITORA: SEXTANTE



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