RENÚNCIA ÀS LEMBRANÇAS E PENSAMENTOS



 

RENÚNCIA ÀS LEMBRANÇAS E PENSAMENTOS

Da atividade secreta em Cristo e do objeto da vida monástica.
Quando tiverdes suprimido, por fora, as distrações; quando tiverdes, por dentro, renunciado aos pensamentos, vosso espírito despertará para as obras e para as palavras espirituais. Ao relacionamento com vossos parentes e amigos, sucederá o das diversas virtudes. Já não haverá aquelas palavras vãs, inseparáveis das relações mundanas: a meditação e a elucidação das divinas palavras trabalhadas em vosso espírito, vão iluminar e instruir a vossa alma.
O afrouxamento dos sentidos é uma cadeia para a alma; sua sujeição traz a ela a liberdade. O pôr do sol traz a noite: assim, Cristo se retira da alma invadida pelas trevas e dilacerada pelos animais invisíveis. O sol se levanta: os animais selvagens voltam a suas tocas. Cristo se ergue no firmamento da alma em oração, todo o relacionamento com o mundo se dissipa; a amizade com a carne desaparece e o espírito parte para sua obra – a meditação das coisas divinas – até a noite. Ele não inscreve em limites temporais a prática da lei espiritual; não lhe basta realizá-la numa certa medida: ele a estende até o momento da morte e da libertação da alma. É nisso que já pensava o profeta, quando dizia: “ Quanto eu amo a tua lei! O dia todo permaneço a meditá-la” (Sl 118,97). O  dia era para ele todo o curso da vida terrestre.
Suspendei, pois, as relações de fora, e batalhai por dentro contra os pensamentos, até encontrar o lugar da oração pura, a casa que Cristo habita: ali, ele vos iluminará com sua ciência, vos deleitará com sua visita e vos fará encontrar alegria nas provações suportadas por sua causa; e rejeitar, como vos faria o absinto, os prazeres do mundo.
A tempestade agita as ondas do mar; enquanto os ventos não enfraquecem, as vagas não se acalmam, nem, o mar se aquieta. Os sopros do mal igualmente agitam, na alma negligente, as lembranças dos parentes, dos familiares, dos espetáculos e de todas as outras imagens do prazer. Esses sopros sugerem-lhe que se ocupe dessas pessoas e coisas, pelos olhos, pela conversa, pelo corpo todo, de modo a fazê-la desperdiçar o momento presente. Depois, estareis sozinha na cela, a alma devorada pela lembrança do que vistes e ouvistes. Aí está como passa na perfeita inutilidade a vida de uma monja.
As ocupações mundanas imprimem lembranças na alma, como os pés deixam marcas na neve. Se damos de comer aos animais, quando os faremos morrer? Se nos distraímos na prática e nos pensamentos de apegos e frequentações insensatas, quando faremos morrer o sentido da carne? Abraçamos uma vida segundo Cristo; quando a viveremos? As marcas dos passos na neve desaparecem  sob os raios do sol ou são levadas por uma boa chuva. Do mesmo modo, as lembranças impressas em nossa alma através da propensão ao prazer, e de nossos atos, dissipam-se quando Cristo, na oração, se ergue no coração, em meio a uma ardente chuva de lágrimas.
Assim, pois, a monja que não se conduz conforme a ordem da razão, quando apagará as impressões e tendências adquiridas, acumuladas na alma? Deixando  a sociedade do mundo, realiza-se materialmente a prática das virtudes. Mas, para gravar na alma as boas lembranças; para conseguir que as palavras divinas estabeleçam nela, com prazer, a sua morada, é preciso apagar da alma a lembrança de vossas ações anteriores. Por meio de orações constantes, acompanhadas de compunção.
A iluminação produzida pela lembrança perseverante de Deus, unida a um coração contrito corta as más lembranças, como se fosse uma navalha.
Imitai a prudência das abelhas. Quando percebem um enxame de vespões esvoaçando ao seu redor, permanecem na colmeia, escapando assim à maleficência de seus adversários. Os  vespões são as frequentações mundanas; fugi delas com o maior cuidado, permanecei na colmeia de vosso mosteiro. De lá, esforçai-vos por penetrar no “ castelo” mais interior da alma, na casa de Cristo, onde reinam, sem contradição, paz, alegria e quietude.
São os dons, os raios pelos quais o nosso sol espiritual, Cristo, recompensa a alma que o acolhe com liberal generosidade.


FONTE: LIVRO PEQUENA FILOCALIA
O LIVRO CLÁSSICO DA IGREJA ORIENTAL
EDITORA  PAULUS

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