“ BOM-BOM E MAU-MAU”




“ BOM-BOM E MAU-MAU”

Quando menino, recordo-me de assistir a um desenho animado infantil chamado “ Bom – Bom e Mau –Mau”. Engraçadérrimo, mas preconceituosérrimo também. O Bom –Bom  era o típico anglo-saxão, alto, loiro, atlético e sorridente, bonzinho e cavalheiro toda vida. O Mau-Mau era baixinho, feio, moreno, mais ou menos um Danny DeVito mexicano, e só fazia canalhice. Claro que era um enlatado norte-americano, mas o conceito continua: existem pessoas boas e pessoas más.

O primeiro problema era que os malvados, baixos, mesquinhos tinham a aparência física mais comum dos latinos. Aliás, a reparar nos filmes de Hollywood, as gangues são normalmente compostas de tipos latinos, orientais ou negros, salvo o chefe, que em geral é caucásia (afinal, lidera uma “missão” para a raça superior, mesmo que para delinquir). Não bastasse o erro de impor traços físicos à virtude e à sua falta, o grande equívoco é desenhar pessoas que sejam exemplos de perfeição e, outras, da baixeza humana. Isso é uma grande tolice. Existem pessoas, apenas.

O Bom-Bom e o Mau-Mau estão dentro de nós. Como já foi dito, são dois cachorros que temos dentro de nós e vencerá esta batalha aquele que alimentarmos melhor, aquele que soltarmos da “ casinha”  e levarmos para a rua, para o desenrolar do cotidiano. O fato de uma pessoa tentar acertar e ficar do lado do bem cotidianamente pode levá-la ao equívoco de pensar ser o “ Bom- Bom” e que aqueles que dela discordam sejam a encarnação do “ Mau-Mau”.

O receio de ser visto como “ Mau-Mau” leva todos a recusar qualquer fraqueza, gerando uma imagem falseada, irreal e, pior, um grande peso a ser carregado: o da realização do impossível. Nada mais perigoso que os moralistas, os “ donos da verdade”.  A verdade não deve ter donos, mas servos. Querer ser sempre perfeito é um peso terrível para quem tenta, e gera muitas dores em todo mundo.
Fernando pessoa,na voz de Álvaro de Campos, no Poema em Linha Reta, chega a dizer: “ Nunca conheci quem tivesse levado porrada./ Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo./ E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil./ Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,/ Indesculpavelmente sujo.(...) Toda a gente que eu conheço e que fala comigo/ Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,/ Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida...(...) Arre, estou farto de semideuses!/ Onde é que há gente no mundo?”

Jesus, em outras palavras, referindo-se aos fariseus e aos mestres da lei, que se julgavam modelos de “Bom- Bom”, disse: “ Digo-lhes a verdade: os publicanos e as meretrizes entrarão adiante de vós no reino de Deus” (Mat.21:31). E o mesmo Cristo disse ter vindo “ não para os são, mas para os doentes” (Mc 2:17), e chamou para si os “ cansados e oprimidos”, e não os fortes e vitoriosos (Mt 11:28).

Não devemos nunca nos deprimir achando que somos só o “ Mau – Mau”, nem nos acharmos melhor do que os outros pensando que somos o “ Bom – Bom”. O caminho está sempre no equilíbrio e na vigilância serena. O leitor que se oprime imaginando-se um “ Mau – Mau” tenha um alento, e, o que se julga um “ Bom – Bom”,  uma reflexão: somos humanos, apenas dentro de nós recordarmos disso seremos mais tolerantes com o comportamento equivocado e falho, e comemoraremos mais a bondade nossa ou no homem ao lado. Faremos da virtude não nosso falso componente, mas nosso desafio, nossa meta. É de lembrar nossa natureza dúbia, nossa fragilidade física e moral, que poderemos vigiar diante do espelho o “ Mau – Mau”,  para que se comporte, e libertar, humilde e grato, nosso lado “ Mau – Mau”, para que se comporte, e libertar, humilde e grato, nosso lado “ Bom – Bom” no correr dos dias.


FONTE: LIVRO PODER ESPIRITUAL PARA A VITÓRIA
WILLIAM DOUGLAS
EDITORA: NVI

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