
A nossa
verdadeira casa
As vezes
a gente vai fazendo da nossa felicidade o sucesso profissional, meio que uma
forma de esquecer da felicidade que não chegou, das promessas que não se
cumpriram, dos castelos de areia que construímos e o vento ou tempo fez questão
de levar.
As pessoas
que nos faziam felizes infelizmente com o tempo tudo se acaba, e a vida as
levam para outros portos e outros mundos. Penso eu, que o fim de todo ser
humano será sozinho. A gente passa a vida toda trabalhando, iguais a
formiguinhas que juntam comida para o inverno, invés de comida - juntamos
dinheiro, lembranças e nos preparamos para a velhice. Montamos um verdadeiro
arsenal contra a solidão, assim como as formiguinhas das fábulas e contos - elas juntavam gravetos
e folhas, e nós juntamos de tudo um pouco - desde folhas, flores e ate espinhos.
Ate que a idade chega e fatalmente nos deparamos com a solidão que todos nós
fugíamos, com o silêncio que não queríamos.
Passasse
uma vida fugindo de nós mesmo, procurando em outras pessoas e em outras
coisas o que realmente somos. Quem somos? Se busca alguém que nos complete e
quando achamos que pode existir alguém no mundo que realmente se pareça
conosco, descobrimos que esse paralelo está muito distante de nós, ate se
encontra-se a tal alma da “alma-gêmea” mas nunca se encontra a alma- “gêmea”,
aquele ou aquela que é igual a você. E ate seus pais que remotamente deveria
ser o que mais se parece com você. Com os passar dos dias você descobre que
família são os nossos pais e que de nada eles tem a ver com você. Talvez os
dedos ou ambição de ser bem sucedido, ate pode ser ligeiramente semelhante, mas
nunca igual.
E você
percebe que sua casa é um lugar só seu, que família e casa não estão ligadas.
Que família são as pessoas que te abraçam quando você quer chorar, que te
ajudam a pagar as contas, mas que casa é o lugar que você se recolhe para se encontrar
e para ser você de verdade. Lugar esse que custa encontrar, casa às vezes se
encontra nos lugares mais improváveis seja no banheiro ou ate mesmo dentro de
um livro, ou de uma canção perdida. Ou quem sabe dentro de nós mesmo? É o lugar que finalmente você pode ser você
de verdade, sem sucesso, mas só você. É o lugar que você pode ser
demasiadamente humano, esquece a razão e percebe que ate as lágrimas podem
fazer bem.
Ate Freud
dizia que falar e chorar ainda são os melhores remédios, as melhores curas. Uma
vez eu estava com meus amigos, aplicando uma terapia e a única coisa que o
“paciente” queria era apenas chorar baixinho, ser humano, sentir uma pontinha
de dúvida de “o que é realmente solidão?”
E aos
poucos vamos nos compensando, criando atalhos para a felicidade. Usamos do
nosso sucesso profissional ou intelectual como uma arma para se aceitar, para
ter auto-estima, para esquecer as tristes dores do passado. Nos orgulhamos de
nós mesmo, como forma de esquecer o que se viveu. Vemos nas boas lembranças
como superamos e como melhoramos. E ate nos vingamos das tristes lembranças
e nos dizemos: “Quem diria que isso fosse acontecer...”
Às vezes
da vontade de voltar ao passado e ver em câmera lenta os castelos de areia se
desmanchando e perceber que apenas somos humanos. Esquecer um pouco o que eu
sou hoje. Estamos pensando muito e nos blindando de sentir.
Eu
pensava que sentir bastava sair pelo mundo e se pôr no lugar do outro, abraçar
uma pessoa doente, se importar, sentir saudade de quem nem conhecemos, abraçar
a causa alheia, mas sentir de verdade ainda está em olhar para dentro de si
mesmo. Sentir ligeira saudade do passado, das preocupações bobas de outrora e
como diz: “Cutucar a ferida mais profunda que nem sabíamos que existia”. Não sabemos
o que é, como é, ou se dói, mas sabemos que se olhar, voltar para dentro - trás
uma sensação muito estranha. É quase como nascer de novo.
Quando
olhamos para dentro simplesmente esquecemos o que somos e o que fizemos. Todo o
presente se desconstrói e em meio do silêncio, apenas se percebe que o silêncio
ainda é a mais doce melodia e ate uma das melhores terapias.
Essa
postagem é para convidar a olharmos para dentro de nós, colocar uma música e
apenas ficar pensando não no que passou, no que está acontecendo ou no que vai
acontecer. Mas apenas não pensar em nada, ficar em silêncio e prontamente tudo
que você queria sentir virá a tona. Tudo que você queria ouvir surgirá. Você
perceberá o quanto você melhorou e superou em pouco tempo. Você perceberá que
a vida é bem mais generosa do que acreditamos que é. E perceberá que nem sempre
somos generosos conosco.
Nos
prendemos, não permitimos que o nosso ser interior visite o mundo exterior. É
sempre fácil estar acompanhada do que parecemos ao outro ou de como nós temos
consciência do apresentamos ao mundo. Mas nunca permitimos nos ver de verdade,
que quem realmente somos conheça um pouco do mundo lá fora.
Trazer o ‘eu
verdadeiro’ para visitar o mundo exterior - é como nascer de novo. É como se libertar e se sentir mais leve, mesmo
que essa sensação não dure para sempre, porque o para sempre ainda é
inexistente, utópico e nunca chega.
Jéssica
Cavalcante