
A pascoa
nos lembra do que nos falta
Esse ano
eu senti a páscoa com mais significado, seja porque as pessoas estão falando
mais sobre isso ou porque as pessoas estão mais sensíveis. A páscoa é um dos
ritos religiosos que mais gosto, pois ela me faz perceber o que realmente
somos.
Para
algumas pessoas o dia de páscoa é sinônimo de parar a sua vida e se dedicar
apenas a Deus. Para minha vida se resume diferente. Dedicar-se a Deus é com as
nossas atitudes, falas e pensamentos (lembrando que ações descreve muito bem se
o seu discurso é ou não verdadeiro). Portanto levarei minha vida comum, mesmo
em dia de páscoa, farei meus deveres, lerei meus livros, escutarei as musicas
que mais gosto, irei ler poesia, dar bom dia a natureza, orar comumente e
simplesmente viver.
Nesse
período de pascoa surge um verdadeiro desespero para se confessar. E hoje
confesso, nunca me confessei e não sinto necessidade em meu coração no momento.
Talvez mais para frente, talvez no futuro próximo eu me sinta tocada para
confessar-me. E se confesso é contando a Deus o que eu sou e o que eu penso.
Não gosto
de ficar contando meus pecados e ações de caridade, apenas vivo, se pequei ou
não, se fiz o bem ou não, se errei ou acertei – pouco me interessa. Minha preocupação se limita apenas em viver enquanto ainda posso, sinto e sou. Se
tenho consciência que errei, peço perdão a Deus, a pessoa magoada e a vida. Pois viver ainda é
muito sagrado para me martirizar com o que eu fiz ou deixei de fazer, viver tem
por lema “o que eu posso fazer – a felicidade é meu limite!”
Já me
falaram “você deveria se confessar” e eu disse: “me confessar de que? Se não me
arrependo do que vi, vivei, pensei...” de certo de minhas ações não foram as
piores, mas para quem pensa pequeno, para quem se reduz a ver o ser humano como
apenas uma pessoa comum, talvez seja pecado. Não entendo como o amor, de toda a
sua beleza, formas e vida, pode ser um pecado! Amar é uma coisa boa, ate os
amores incomuns, arbitrários ainda assim é amor. Pecado mesmo é o desamor, é
julgar, decretar condenações. Mas viver, ser feliz, sorrir... Não entra na
minha mente como ser feliz pode ser um pecado e talvez no futuro, quando eu
morrer, eu descubra que toda essa felicidade era pecado mas quando isso
acontecer. Será um novo tempo, uma nova descoberta, uma outra história porque
não se pode passar a vida se preocupando com o que vai fazer quando morrer. Não
se pode fazer os dois ao mesmo tempo – ou se vive, ou se morre, apesar que eu
prefiro ressuscitar a cada hora, a cada dia e ter uma vida nova a todo tempo.
Páscoa
para mim não é se confessar, parar de comer carne, parar de fazer o que tenho
que fazer para passar o dia meditando na fé. Pascoa para mim é viver na fé.
Minha páscoa é todos os dias do ano. A minha páscoa é quando eu tolero meu
próximo, quando eu amo o diferente e digo “te aceito, te compreendo, te amo”. Páscoa
é quando eu abraço o menor abandonado, o doente e com um amor eu me curo e curo
meu irmão. Páscoa é quando ajo honestamente, quando me esforço não só por mim
mas por meu semelhante. Quando sorriu e faço o outro ser feliz também. Páscoa
para mim é quando eu vejo a imagem de Jesus Cristo ate no pior dos pecadores, é
quando eu perdoo, tenho paciência ao escutar discursos sejam elas corretos ou
equivocados. Quando vivo bem, feliz, harmoniosamente com quem me odeia, com
quem detesta meu pensamento e que quer me mudar contra a minha vontade. Páscoa
para mim, é quando eu não aceito a opressão, quando luto por minha liberdade e
a liberdade de meu irmão. Páscoa para mim é quando eu oro a Deus e digo: “Deus
eu penso assim, se ta certo ou errado - eu não sei. Se o senhor discorda
simplesmente me modifica”.
Páscoa é
quando eu sinto a dor do outro, que eu me importo, sofro porque me apeguei
demais e tão rápido, quando me decepciono e ainda assim continua a acreditar,
confiar, ter esperança na bondade da humanidade (eu prefiro quebrar a cara 1
milhão de vezes do que desacreditar que o mundo ainda pode ser bom). Páscoa
para mim não são 40 dias mas 40 anos se reformulando a cada segundo, meditando
e refletindo em saber o que eu sou, o que eu posso fazer pelo próximo e o que
eu sou para Deus e o que Deus é para mim.
Penso que
o que Deus mais quer nessa pascoa. Não são as igrejas com seus confessionários
lotados, a geladeira com chocolate, a refeição com carne branca... O que Deus
quer é um coração lotado de sentimentos bons e que as nossas ações sejam
reflexo do amor de Deus. Vamos sair, ajudar o próximo. Abraçar quem ta doente,
dar amor a todos, ter uma vida com mais carinho, mais delicadeza, mais beleza
poética, mais fé nos momentos de desespero, menos egocentrismo e mais amor
compartilhado.
A pascoa
me lembra não o que tenho, pois me basto com o que tenho, mas lembra o que falta
em mim. Me lembra que quando eu olhar meu semelhante eu devo perceber ele sem
essas amarras de “certo ou errado”, “diferente ou normal”... Olhar para todos e
perceber que todos são diferentes de mim e que eu também sou diferente, que o
normal não existe, mas que o amor existe e o amor deve-se doado para todos.
Na pascoa
eu só quero que o amor de Cristo invada nossas vidas e nos toque de uma forma
que nos modifique. Que nos faça grande, liberte a nossa mente, toque a nossa
alma, faça o nosso mundo ser mais vivo, mais colorido, mais feliz, mais
honesto, mais caridoso...
Vamos
quebrar paradigmas, quebrar essa reprodução sistemática de rotina de nossa fé.
Vamos orar a Deus com sinceridade, falar o que somos, o que gostamos em nós, o
que não gostamos e deixar Deus livre para nos modificar. Vamos reformular a nós
mesmo, vamos amar as pessoas da rua assim como amamos os nossos filhos. Vamos
nos amar, nos aceitar e não importa como o outro lhe percebe. – temos que aprender a nos perceber, a ver
como especiais nós somos e como isso nos torna feliz. Simplesmente que a pascoa
seja felicidade, amor a si, ao outro e a Deus - não só hoje, mas todos os dias.
Que a
páscoa seja doce, seja eterna e que todos os dias a sensibilidade do amor de Deus
seja quesito principal de nossos dias.
Jéssica
Cavalcante