
A nossa
dor e a dor do outro
A nossa
dor é sempre gigante e passa sempre a sensação de ser impossível de ser
solucionada, mas infelizmente para muitos - a dor alheia não passa de frescura. E alguns ainda vão mais além e dizem que é besteira, usam argumentos divinos a
exemplo de: “Deus castigou” ou simplesmente “Isso é falta de Deus”. Ninguém
adoece porque quer. A dor vem da alma e por muitos tratarem como frescura a dor
também pode matar.
Toda vez
que vejo os noticiários, são tantas noticias ruins, tantas dores que não são
minhas – muitas vezes essas dores se passam despercebidas. Estamos em
nosso mundinho feliz, afinal temos uma família feliz, comida na mesa, amigos
que nos fazem rir o tempo todo, livros e entretenimentos aos nosso clique... Para
quê sentir um pouco da dor do outro? Infelizmente é assim que ainda agimos, mas
quando finalmente a gente pensa, percebemos que ate o marginal de rua tem quem
o ame e que sinta a dor de sua perda. Quando um desses infratores das ditas
normas chamadas leis, morrem, dizemos: “menos um bandido”. E assim vamos
vivendo, achando que estamos escapando do perigo enquanto isso o circo pega
fogo e se destrói sobre as nossas cabeças.
Todos os
dias convivo com muitas pessoas, vejo milhares de pessoas, seja as da
universidade, nos projetos que faço parte, no trânsito... E eu me pergunto:
“Quais são as dores de cada uma dessas pessoas?” vivemos no mundo onde chorar é
proibido e sofrer é motivo de vergonha. Vivemos no mundo onde inteligência é
pressuposto para um “caráter fail”, no mundo onde ate a fé tem-se um preço,
onde amar está mais raro, amizade verdadeira aos poucos vira utopia e viver
está virando quase uma ideologia.
Falamos
tanto em precisamos viver, mas realmente estamos vivendo? Viver não é sair pelo
mundo a fora e agir de forma descompassada e louca, viver é mais sentir do que
agir. Afinal o que adianta ter rosas em casa se não paramos e apreciamos o seu
doce aroma? E aos poucos a poesia se torna mais rara, invés de poesia preferimos
as teses, a exatidão, a certeza e quem sabe a promessa de um futuro que
realmente se realize!
Aos
poucos a inspiração vai sendo redirecionada, a vida também. E vamos perdendo a
nossa essência. As dores chegam e achamos que se sentir triste ainda se cura
com analgésico. Basta tomar um remedinho que passa. Queremos a cura do mundo,
mas esquecemos que a cura do mundo não se vende em farmácias, ainda depende
muito da gente.
Temos
tanto deveres e responsabilidades, e o pior, que não passamos de apenas
humanos. Onde o tudo se transforma em nada rapidamente. Toda uma história
reduzida a nada, as provas aos poucos se transformam em lembranças abstratas.
Estamos muito cheios de si para quem ainda tem sangue correndo pela veia. Nós
somos feitos de material frágil e perecíveis, mas nos sentimos tão bem, tão
fortes...
Um dia
desses meu professor passou um documentário em sala de aula. E nesse
documentário dizia assim: “Não sei se quando o ser humano crer em Deus é bom ou
ruim, bom porque ele se torna mais forte e mais feliz, e ruim porque ele se
acha bom o suficiente para ate superar a morte ou enganá-lo”. E vamos dando o nosso
jeitinho, achamos que quando nós fomos morrer vamos jogar um bom argumento em
Deus, Ele se compadece e perdoa. Penso eu, que essa não é a questão. Penso que
ninguém tem medo de morrer, o que as pessoas tem medo mesmo é de viver sozinhos
e apenas com as boas lembranças. Ate quando o pior dos ditadores morre, nos
deixa com uma nostalgia. Nos indagando sobre o que realmente é a vida?
Não quero
pensar qual o conceito da vida, porque o conceito da palavra vida já me
ensinaram ou me imporam assim que eu nasci. O que ainda nos falta é criar os
nossos próprios conceitos das três mais belas palavras: vida, amor e fé.
Jéssica
Cavalcante