Desconhecida no Brasil, a terapia neural propõe o tratamento de sintomas
usando injeções de uma substância chamada procaína, que, segundo o
método, provoca um estímulo no sistema nervoso e "reorganiza" funções do
organismo.
A técnica, que surgiu na Alemanha na década de 1920 e é popular em
países da Europa e da América Latina, tem princípios parecidos com os da
acupuntura: considera o corpo como um todo e não se preocupa
necessariamente com a cura.
Para a terapia neural, fatores físicos e emocionais, como um trauma ou
uma cirurgia, desequilibram o sistema nervoso. Essas alterações levam a
sintomas físicos, entre eles dores crônicas, insônia ou prisão de
ventre.
A aplicação da substância seria capaz de restaurar o equilíbrio
neurológico, o que contribuiria para o desaparecimento do problema.
Marcelo Justo/Folhapress | ||
A terapeuta Silvia Serber simula a aplicação de procaína no couro cabeludo |
"A terapia 'apaga' as memórias irritativas [relacionadas a traumas] do
sistema nervoso", diz Afonso Jorge França, ortopedista e terapeuta
neural.
A procaína é um anestésico local injetável pouco usado hoje. Nessa
terapia, sua função de anestésico é a menos importante, tanto que é
usada superdiluída.
"Pensamos na procaína como um estímulo, não como um remédio, assim como a
agulha da acupuntura é um estímulo e o glóbulo da homeopatia é outro",
afirma a terapeuta ocupacional Silvia Serber. Ela acabou de fazer um
curso do método na Colômbia e está trabalhando com a técnica aqui no
país.
Na terapia neural, uma cicatriz pode ser desbloqueada (como se a
lembrança associada a ela fosse apagada). Cicatrizes, por sinal, são
tidas como pistas importantes para tratar um problema.
Outro ponto fundamental é a saúde dos dentes --por ser uma região muito
enervada--, o que faz a técnica ser praticada por dentistas.
"Grande parte das doenças sistêmicas têm origem na cavidade bucal. É
possível aplicar a terapia na boca e tratar males à distância", diz
Emiko Uchida, dentista que usa o método e faz uma pesquisa sobre o tema
na USP.
HISTÓRICO DO DOENTE
Para o terapeuta neural, o sintoma e a história da pessoa são mais importantes do que o diagnóstico da doença.
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Uma sessão (custa, em média, R$ 200) pode ter mais de 40 minutos de
conversa. Só depois o profissional decide onde aplicar as injeções,
quase sempre superficiais.
"Fazemos uma pápula, é uma bolhinha de líquido sob a pele. Essa bolha é
reabsorvida rapidamente e isso já é suficiente para o estímulo nervoso",
explica Serber.
Não há garantia de que o paciente saia da sessão livre do problema.
Segundo França, o efeito anestésico em si dura cerca de 20 minutos. E o
efeito neurológico varia de pessoa para pessoa.
Os terapeutas acompanham o paciente e, se preciso, fazem novas aplicações.
A psicóloga Nilce Silveira, 61, procurou a terapia neural para tratar uma tosse insistente e para deixar de roncar.
"Dói menos que tirar sangue. Fiz aplicações no peito e nas costas. Não
parei de tossir na hora, mas saía da sessão aliviada e a tosse foi
melhorando com o tempo. Foi a mesma coisa com o ronco."
Ela fez o tratamento há um ano. E, aos poucos, os problemas voltaram. "Faria de novo, foi uma boa ajuda", diz.
RISCOS
A terapia neural é contraindicada para quem tem alergia à procaína ou a outros anestésicos usados, como xilocaína.
Segundo a anestesiologista Fabíola Minson, membro da Sociedade
Brasileira para o Estudo da Dor, a procaína é considerada mais
alergênica do que outros analgésicos usados pela medicina convencional.
Para ela, o tratamento oferece riscos.
"Qualquer procedimento invasivo tem risco de infecção. O fato de ser feito por não médicos me preocupa bastante."
Segundo José Oswaldo de Oliveira Júnior, neurocirurgião do Hospital A.C.
Camargo, não há evidências suficientes para justificar a terapia
neural. "O profissional que faz deve ter o consentimento do paciente e
assumir o risco."
O Conselho Federal de Medicina ainda não avaliou o tema e não endossa e nem proíbe a terapia.
Fonte: FOLHA SP
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