PEDINDO E RECEBENDO



PEDINDO E RECEBENDO

As contas do conhecimento já foram aceitas;
só é necessário enfiá-las para formar um colar.
                       Ken Wilber


O cerne de uma viagem em busca de sabedoria é o processo de pedir informações às fontes ao seu redor e ser capaz de receber as respostas. Quando você  tiver encontrado uma forma confortável de fazer a busca interior, escolha apenas uma das palavras sensíveis que tiver descoberto.
Reconsidere essa palavra, faça-a girar na sua mente e no seu corpo e depois afaste-se dela. Se você não conseguir expressar seus pensamentos numa pergunta ou numa palavra, simplesmente volte a se questionar. O que é esse sentimento? O que ele representa para mim, para minha vida? Você terá muitas respostas ou apenas uma. Se forem muitas, algumas serão passageiras e não produzirão nenhuma outra mudança visceral em você. Deixe que elas passem até receber uma resposta ou informação que produza uma sensação palpável.
Imagine-se como um sábio ( escolha seu preferido: Salomão, Buda, Jesus de Nazaré, Gandhi, Einstein) sentado no centro do sentimento ou fazendo a pergunta: “ O que estou ouvindo?”
Se estiver ao ar livre, peça ajuda aos recursos naturais à sua volta: o céu, a água, as árvores, os animais. Se você optou por uma viagem xamânica, pergunte à escuridão ou ao seu animal do poder. Cada resposta que se encaixe trará uma satisfação, pequena ou grande. Você vai saber. É como um organismo, quando acontece não há como confundir.
Receba o que vier; permaneça vulnerável.
Examine a informação que continua a inundar sua mente e seu corpo, em vez de aceitá-la apressadamente. Sonde as respostas e repita suas perguntas. Tente mais uma vez esclarecer com delicadeza o que está sentindo e veja se é possível descrever com palavras. Se você decidiu escrever um diário, talvez seja a hora de registrar o que aprendeu.
Você pode continuar a fazer  perguntas. É importante manter a mente aberta, preservar a solidão, até sentir cansaço. Você vai saber claramente quando tiver terminado.
Será como entrar em ponto morto, com vontade de andar a esmo ou não fazer nada, enquanto tudo o que você sentiu e aprendeu.
Quando dei esses passos pela primeira vez, meus objetivos eram muito vagos. O que era essa sensação íntima que parecia me limitar de tantas formas? Os sentimentos em torno dela eram o medo e a dor. Finalmente, quando a palavra “ abandono” surgiu a partir desses sentimentos, foi um encaixe perfeito nas minhas profundeza. Eu soube que era a verdade.
As informações começaram a jorrar. Quando eu era pequena, quase a partir do meu nascimento, eu havia sido deixada. Nasci em Londres durante a Segunda Guerra Mundial. Passei a primeira noite da minha vida e todas as noites ao longo de três meses num abrigo à prova de bombas. Tanto meu pai quanto minha mãe eram policiais, e suas obrigações durante a guerra e os bombardeios os afastavam de mim. Era uma época de um medo enorme. Meu irmão e eu acabamos sendo mandados para fora da cidade,  como muitas outras crianças, para a segurança do campo.
Fui transferida com frequência de casas de parentes para lares adotivos, para orfanatos e locais para onde meus pais haviam sido designados.
Quando meu pai, que havia sido técnico de minas antes de se tornar policial, foi mandado para trabalhar nas minas durante três meses a fim de produzir carvão para o esforço da guerra, fui com ele e fiquei aos cuidados de uma creche.
Eu só tinha dois anos, mas as lembranças permaneceram.
Quando empreendi uma viagem em busca de sabedoria, soube pela primeira vez que, quando muito pequena, eu havia sofrido algum tipo de abuso. Eu sentia o cheiro do pó de carvão e do suor da pessoa que me havia agredido. Eu também soube, com clareza, que não havia sido meu pai.
Minha vida inteira eu havia procurado aquele cheiro, sem nunca saber por que motivo. De algum modo, aquele dano remoto, não importa qual tivesse sido, fez com que eu mergulhasse tão fundo em mim mesma, que só na maturidade eu me  dispus a começar a confiar de novo. Pela primeira vez, pude lembrar-me daquelas experiências a aceitar seu impacto sobre a minha vida.
Uma das imagens mais expressivas que vieram à tona foi a de uma criança de um ano ou dois, deitada numa caminha num lugar estranho, bem apertada debaixo das cobertas. Eu tinha a ideia de que, se conseguisse ficar deitada na cama bem quietinha, se não movesse um músculo a noite inteira, eu ainda estaria lá de manhã. Mais tarde, quando eu não era mais bebê e a família estava reunida, eu ainda procurava descobrir na minha cama um lugar escuro e apertado para criar segurança e a sensação de ser abraçada.
Aprendi a ir por baixo das cobertas até o pé da cama e me enfiar entre o final do colchão e as roupas de cama.
Eu estava tentando descobrir as normas para a sobrevivência. Havia alguma ligação entre a violência, o fato de eu raramente ser abraçada ou receber carinho e o abandono frequente. Eu era muito pequena e precisava compreender para saber o que se esperava de mim. Essa conhecimento resultou  num compromisso perene de trabalhar em prol de crianças atingidas.
Suas perguntas podem não ser tão voltadas para o íntimo. Você pode ter questões da comunidade, da família ou do trabalho sobre as quais queira saber mais. Você pode  estar à procura de orientação durante um período de ambivalência. Às vezes, o que você receber poderá suprir sua necessidade, mas com frequência revela outra necessidade mais profunda. Seja o que for que aconteça, é você quem decide o que fazer em seguida.
Onde sua dor estiver, você encontrará sua alma. No entanto, a transformação sempre produz uma sensação de perda; e o pensar pode ser avassalador. Prepare-se: todas as tradições de sabedoria referem-se ao abismo, à dor sem fim. Você precisará debruçar-se sobre a dor porque os momentos mais sombrios contém a verdade mais profunda.


FONTE: LIVRO VINTE PASSOS PARA A SABEDORIA
UM MANUAL PARA O AUTOCONHECIMENTO
E O BEM-ESTAR ESPIRITUAL
JENNIFER JAMES, PH.D.
EDITORA: SEXTANTE




      

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