A polêmica de correr descalço
Surgem no Brasil corredores que dispensam os tênis
para tentar se proteger de lesões. Mas não há
consenso entre os especialistas sobre os benefícios
da prática
Rachel Costa
DIRETO NO CHÃO
Em Brasília, Erik (de branco) e seus amigos aderiram à prática
Nos Estados Unidos, aposentar os tênis na hora de correr não é mais novidade. Naquele país, mais de 250 pessoas reuniram-se no domingo 10 para a primeira corrida sem calçados de Nova York. O evento é um entre os mais de 60 catalogados pela Sociedade Americana dos Corredores Descalços – entre provas e workshops. Por aqui, observa-se o surgimento de grupos desses corre dores e de pontos de encontro para a troca de informações na internet.
QUASE DESCALÇO
As sapatilhas permitem o movimento natural dos pés
Um dos focos impulsionadores desse movimento está na Universidade de Harvard. Pesquisador do departamento de biologia da evolução humana da instituição e corredor descalço, Daniel Lieberman causou rebuliço ao publicar um artigo na revista “Nature” defendendo os benefícios da corrida sem calçado. Em seu estudo, Lieberman analisou 63 corredores e observou que aqueles que usam tênis tendem a inverter a pisada: em vez de usar o amortecimento natural do corpo, colocando primeiro a parte da frente e central do pé em contato com o chão e só depois o calcanhar, eles iniciam a pisada pela parte de trás do pé. Essa forma de pisar, segundo o americano, está associada a problemas como lesões do músculo tibial (responsável por tracionar o pé para cima). Sua conclusão é de que o corpo já teria as adaptações necessárias para absorver o impacto da corrida e, portanto, não precisaria do amortecimento dos calçados. “É absurda a ideia de que precisamos de um tênis superacolchoado para correr”, afirmou à ISTOÉ. Outra referência entre os corredores descalços é o livro “Nascidos para Correr”, do jornalista Christopher McDougall, lançado no Brasil neste ano. A obra conta como McDougall se viu livre das lesões após abandonar os tênis. Inspirado pelo exemplo do jornalista e pelas pesquisas de Lieberman, o médico Erik Neves, 40 anos, de Brasília, resolveu começar a treinar descalço. E chamou mais gente. O grupo recém-formado conta agora com cinco pessoas. “No Brasil estamos atrasados no assunto”, diz o médico, que montou um blog sobre o tema. Os praticantes contam ainda com a adesão dos usuários dos calçados minimalistas, espécie de sapatilhas para corrida, sem amortecimento. Em Curitiba, o casal Rodrigo Stulzer, 38 anos, e Maria Izabel Valdega, 37, usam. “Sinto menos dores no joelho”, diz Rodrigo.
O tema, porém, é controverso. “Não deixo meus alunos treinarem descalços e nem com sapatilhas”, diz Marcos Paulo Reis, dono de uma assessoria esportiva em São Paulo. Para Reis, tênis são fundamentais para reduzir o impacto sobre as articulações e evitar lesões. Mais moderado, Júlio Serrão, da Universidade de São Paulo, reconhece a importância do contato direto do pé com o chão. “Sem o tênis, aumenta o trabalho muscular, principalmente dos grupos musculares responsáveis pelo controle de choque, o que é positivo”, avalia. Para usufruir desses benefícios, no entanto, ele acredita não ser necessário correr descalço. “Se a pessoa andar descalça em casa, exercita esses músculos.” Por isso, ele aconselha a fazer o aquecimento e o relaxamento sem os calçados e, na hora do treino, calçar os tênis. “Criamos a ilusão de que temos uma dependência do calçado e isso não é verdade”, considera. “Mas ele é um artigo que ajuda no amortecimento, no controle da temperatura e na distribuição da pressão sobre a planta do pé.” Como se vê, a polêmica ainda tem muito fôlego.
A polêmica de correr descalço
Surgem no Brasil corredores que dispensam os tênis
para tentar se proteger de lesões. Mas não há
consenso entre os especialistas sobre os benefícios
da prática
DIRETO NO CHÃO
Em Brasília, Erik (de branco) e seus amigos aderiram à prática
Nos Estados Unidos, aposentar os tênis na hora de correr não é mais novidade. Naquele país, mais de 250 pessoas reuniram-se no domingo 10 para a primeira corrida sem calçados de Nova York. O evento é um entre os mais de 60 catalogados pela Sociedade Americana dos Corredores Descalços – entre provas e workshops. Por aqui, observa-se o surgimento de grupos desses corre dores e de pontos de encontro para a troca de informações na internet.
QUASE DESCALÇO
As sapatilhas permitem o movimento natural dos pés
Um dos focos impulsionadores desse movimento está na Universidade de Harvard. Pesquisador do departamento de biologia da evolução humana da instituição e corredor descalço, Daniel Lieberman causou rebuliço ao publicar um artigo na revista “Nature” defendendo os benefícios da corrida sem calçado. Em seu estudo, Lieberman analisou 63 corredores e observou que aqueles que usam tênis tendem a inverter a pisada: em vez de usar o amortecimento natural do corpo, colocando primeiro a parte da frente e central do pé em contato com o chão e só depois o calcanhar, eles iniciam a pisada pela parte de trás do pé. Essa forma de pisar, segundo o americano, está associada a problemas como lesões do músculo tibial (responsável por tracionar o pé para cima). Sua conclusão é de que o corpo já teria as adaptações necessárias para absorver o impacto da corrida e, portanto, não precisaria do amortecimento dos calçados. “É absurda a ideia de que precisamos de um tênis superacolchoado para correr”, afirmou à ISTOÉ. Outra referência entre os corredores descalços é o livro “Nascidos para Correr”, do jornalista Christopher McDougall, lançado no Brasil neste ano. A obra conta como McDougall se viu livre das lesões após abandonar os tênis. Inspirado pelo exemplo do jornalista e pelas pesquisas de Lieberman, o médico Erik Neves, 40 anos, de Brasília, resolveu começar a treinar descalço. E chamou mais gente. O grupo recém-formado conta agora com cinco pessoas. “No Brasil estamos atrasados no assunto”, diz o médico, que montou um blog sobre o tema. Os praticantes contam ainda com a adesão dos usuários dos calçados minimalistas, espécie de sapatilhas para corrida, sem amortecimento. Em Curitiba, o casal Rodrigo Stulzer, 38 anos, e Maria Izabel Valdega, 37, usam. “Sinto menos dores no joelho”, diz Rodrigo.
O tema, porém, é controverso. “Não deixo meus alunos treinarem descalços e nem com sapatilhas”, diz Marcos Paulo Reis, dono de uma assessoria esportiva em São Paulo. Para Reis, tênis são fundamentais para reduzir o impacto sobre as articulações e evitar lesões. Mais moderado, Júlio Serrão, da Universidade de São Paulo, reconhece a importância do contato direto do pé com o chão. “Sem o tênis, aumenta o trabalho muscular, principalmente dos grupos musculares responsáveis pelo controle de choque, o que é positivo”, avalia. Para usufruir desses benefícios, no entanto, ele acredita não ser necessário correr descalço. “Se a pessoa andar descalça em casa, exercita esses músculos.” Por isso, ele aconselha a fazer o aquecimento e o relaxamento sem os calçados e, na hora do treino, calçar os tênis. “Criamos a ilusão de que temos uma dependência do calçado e isso não é verdade”, considera. “Mas ele é um artigo que ajuda no amortecimento, no controle da temperatura e na distribuição da pressão sobre a planta do pé.” Como se vê, a polêmica ainda tem muito fôlego.
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