AMOR FRATERNO
EVANGELHO DE SÃO JOÃO
CAPITULO 15
12 - Este é
o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amo. 13- Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus
amigos. 14- Vós sois meus amigos, se fazeis o que
vos mando. 15- Já não vos chamo servos, porque o servo
não sabe o que faz seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer
tudo quanto ouvi de meu Pai. 16-
Não fostes os que me
escolhestes, mas eu vos escolhi e vos constituí para que vades e produzais
fruto, e o vosso fruto permaneça. Eu assim vos constituí, a fim de que tudo
quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vos conceda. 17- O que vos mando é que vos ameis uns aos outros.
Aqui está o maior de todos os mandamentos: o amor.
Desde o Antigo Testamento, Deus se comunica pelo amor. A
existência do universo é uma prova de amor. A aliança é uma prova de amor. Os
profetas que fazem com que a esperança continue viva são uma prova de amor. O
Ágape divino é a razão primeira da existência do universo e da história.
O amor não é uma imposição intrusa, externa. É uma condição
própria do homem. O amor anima, isto é, dá alma à existência humana. O amor
traz o significado à vida. Os gregos falavam dos três tipos de amor: Eros,
filia e Ágape. Eros é o mais aprisionado, brincalhão. Filia é amizade. E Ágape
é divino.É amor que não exige retribuição. É puro. É livre.
Em toda a história da salvação, percebemos o amor de Deus pelos
seus filhos. Avida de Jesus é uma surpreendente história de amor. Um amor que
primeiro cuida, depois orienta. É com a mãe que vê o seu filho machucado por ter
quebrado a mesa de vidro. Primeiro ela cuida dos ferimentos, acalma o
nervosismo, embala no colo. Depois orienta para que o erro não se repita.
O amor cristão faz com que repitamos a primeiras comunidades que
estão retratadas no início dos atos dos Apóstolos. O Senhor ia reunindo mais e
mais pessoas, e a Igreja ia crescendo porque eles se amavam. Aliás, os cristãos
eram conhecidos pelos não cristãos pela seguinte expressão: “ Vede como eles se amam”. E esse testemunho fazia com que mais e
mais pessoas quisessem aderir ao cristianismo. O amor foi a principal virtude
para que a Igreja, no início tímida e pequena, fosse angariando mais
seguidores.
Meus irmãos, não há nada mais bonito do que uma comunidade que
se ama. Um padre se realiza como pastor quando vê o amor entre as suas ovelhas.
Um pai se calma quando percebe o amor entre os irmãos. Um amor que constrói,
que edifica que ilumina e supre tantas outras necessidades de que já falamos.
A ausência de amor, ao contrário, traz os piores sentimentos. A
inveja, o orgulho, a prepotência, o desrespeito, a injustiça. Quem ama é justo.
Quem ama é verdadeiro. Quem ama é paciente. Lembremo-nos dos ensinamentos de
São Paulo em sua carta aos Coríntios.
O amor é ainda maior do que a fé e a esperança. O outro nome do
amor é a caridade. A caridade não é Eros, nem Filia. É Ágape.
Há um conto chinês que narra a história de um jovem que foi
visitar um sábio conselheiro e lhe falou sobre as dúvidas que tinha a respeito
de seus sentimentos por uma bela moça.
O sábio escutou-o, olhou-o nos olhos e disse-lhe apenas uma
coisa: “ Ame-a”.
E logo se calou.
O rapaz, insatisfeito, acrescentou: “ Mas ainda tenho dúvidas...”
Novamente, o sábio lhe disse: “ Ame-a”.
E, diante do desconcerto do jovem, depois de um breve silêncio,
continuou:
Meu filho, amar é uma decisão, não um sentimento. Amar é
dedicação. Amar é um verbo e o fruto desse ação é o amor. O amor é um exercício
de jardinagem. Arranque o que faz mal, prepare o terreno, semeie, seja
paciente, regue e cuide. Esteja preparado porque haverá pragas, secas ou
excesso de chuvas, mas nem por isso abandone o seu jardim. Ame, ou seja
aceite,valorize, respeite, dê afeto, ternura, admire e compreenda.
Simplesmente:
Ame! A vida sem Amor... não tem sentido.
E ainda prosseguiu o sábio:
A inteligência sem amor te faz perverso.
A justiça sem amor te faz implacável.
A diplomacia sem amor te faz hipócrita
O êxito sem amor te faz arrogante.
A riqueza sem amor te faz avarento.
A docilidade sem amor te faz servil.
A pobreza sem amor te faz orgulhoso.
A beleza sem amor te faz ridículo.
A autoridade sem amor te faz tirano.
O trabalho sem amor te faz
escravo.
A simplicidade sem amor te deprecia.
A lei sem amor te escraviza.
A política sem amor te
deixa egoísta.
A vida sem AMOR... não tem sentido.
O amor dá significado às relações. Tornamo-nos mais dóceis, mas
inteiros, mais comprometidos com o outro.
Enfrentamos a dor com mais grandeza. O saudoso Papa João Paulo
II foi a grande prova de uma vida dedicada ao amor. O seu perdão ao homem que
desferiu tiros contra ele foi comovente. Sua peregrinação pelo mundo foi em
defesa da paz.
Vivi um momento inesquecível ao lado de Dom Fernando Figueiredo,
meu bispo, quando fomos a Roma entregar a ele o Filme Maria, a mãe do filho de
Deus.
Visitamos depois o cardeal Ratzinger, cuja singeleza comprovou a
tese de que os grandes homens são profundamente simples.
Quando da celebração dos cinco anos de falecimento do Papa João
Paulo II, o Papa Bento XVI disse que o seu antecessor era movido pelo amor a
Cristo, a quem havia dedicado sua vida, um amor sobre abundante e
incondicional. Disse Bento XVI:
Foi precisamente porque se aproximou cada vez mais de Deus no
amor que ele pôde tornar-se companheiro de viagem para o homem de hoje,
derramando no mundo o perfume do amor de Deus (...)
A progressiva fraqueza física, de fato, não corroeu jamais sua
fé rochosa, sua luminosa esperança, sua fervente caridade.
Ele se deixou consumir por Cristo, pela Igreja, pelo mundo
inteiro: seu sofrimento foi vivido até o final por amor e com amor (...) esse
amor de Deus, que vence tudo.
Há líderes políticos que conseguiram apreender essa lição.
Gandhi fez uma grande peregrinação pela não violência. Comoveu uma nação.
Jejuo. Tentou compreender as diferenças religiosas, tudo em busca de um mundo
não violento. Parecia ingênua sua proposta de paz, mas o tempo provou que ele
estava correto. Aquele homem franzino se fez gigante e poderoso pela grande
causa que abraçou.
Nelson Mandela é outro exemplo de grandeza de alma. Ficou preso durante 27 anos e saiu da
prisão disposto a amar. É dele esta preciosidade:
Ninguém nasce odiando outra pessoa
Pela cor de sua pele,
ou por sua origem, ou sua religião.
Para odiar, as pessoas precisam aprender,
e se elas aprendem a odiar,
podem ser ensinadas a amar,
pois o amor chega mais naturalmente
ao coração humano do que o seu oposto.
A bondade humana é uma chama que pode
Ser oculta, jamais extinta.
É preciso resgatar essa capacidade de amor. O ódio é uma forma
mesquinha de resolver os conflitos. A violência real ou simbólica nos afasta de
Deus e de nossos irmãos.
Toda a lei se resume neste lindo ensinamento de Jesus: “ Este é o meu mandamento: amai-vos uns
aos outros, como eu vos amo”.
Santo Agostinho filosofa, explicando esse mandamento: Cultiva em
ti a planta do amor, pois dela só poderá vir o que é verdadeiramente bom.
Por amor.
Quem ama nunca faz o mal, e é para o bem que nascemos!
FONTE: LIVRO ÁGAPE
PADRE MARCELO ROSSI
EDITORA: GLOBO
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