Minha admiração pela cultura Afro-Brasileira
Existe uma diferença entre não ser racista e
desenvolver uma admiração pela cultura Afro-Brasileira. Eu nunca fui racista,
porém convivi por um bom tempo da minha vida com pessoas racistas, me indignava
com comentários racistas mas ate então pensava: “um dia essa pessoa vai mudar”.
E um belo dia, eu mudei de contexto e comecei a entender um pouquinho mais da
dinâmica social.
Na época de ensino médio eu estudei em colégio
particular e vivia no padrão “branco de ser”, enfim numa bolha social. Você só
convive com pessoas muito parecidas, com a mesma dinâmica social, mesma crença,
mesmo nível econômico e é impossível você entender certas coisas - se você nunca
passou ou nunca irá passar por isso. Ate que passou o tempo, eu cresci, entrei
numa universidade pública e meu ciclo de amizades tornou diferenciado. E logo
fui apresentada a diversidade social e política. Entendi porque as cotas
raciais são extremamente importantes, percebi que existem estatísticas e
infelizmente a maioria das pessoas mortas na violência urbana são jovens, da
periferia e negro. Que a desigualdade racial está ate mesmo na saúde pública,
que a população negra precisa de políticas públicas diferenciadas. É necessário
um sistema de saúde pública que também esteja preparado para atender a
comunidade quilombola.
Depois de entender que ate as políticas
públicas são deficientes, que elas não atendem a população negra e que se o
pouco que conquistaram foi a base de muita luta. Realizei uma pesquisa sobre
direitos humanos e lutas sociais na construção de políticas públicas para a
saúde da população negra, o que eu descobri foi que durante anos o descaso era
maior do que hoje e que muitas conquistas foram oriundas de mortes, ou seja, pessoas
foram mortas em massacres nas periferias, depois gerou uma onda de protesto e
insatisfação que chegou a ONU, para só assim o Brasil criar políticas públicas
para essa população - políticas que são cheia de falhas.
Quando comecei a militar em movimentos sociais,
chegaram denuncias que pessoas estavam sendo barradas de entrar em shoppings
por simplesmente estarem vestidas de forma “precarizada”, por serem negras e da
periferia. Ou seja, a repetição do apartheid de espaços para ricos e para
negros. Fizemos intervenções com denúncias ao ministério público, jogral e
protestos, divulgamos na mídia e promovemos uma onda de debates sobre temáticas
relacionadas ao racismo.
Passando um pequeno tempo, falei ao meu
orientador que quero estudar a cultura afro-brasileira, ele comprou a ideia e
fomos a comunidade quilombola pesquisar. Também conversei com minha supervisora
de estágio e também desenvolvemos algumas ações na escola pública qual estagio.
E mais uma vez sai impactada, pois o racismo é presente ate em educadores, que
também são responsáveis pelas mudanças sociais.
É necessário compreendermos que vivemos numa
sociedade desigual, sociedade que nega direitos básicos as pessoas. Instituições
tentam o tempo todo promover o esquecimento de certos grupos sociais e tratam
determinadas etnias como pecadoras, utilizando argumentos dogmáticos que não passam
de copilações de teoria eugenista. Existe uma disputa de terras no Brasil e
diariamente negros e índios morrem, pois grileiros tomam suas terras. E os
negros que tem chão garantido na cidade, no meio urbano, ainda assim é vitima
da violência - seja por assalto ou procedimentos irregulares da segurança
pública. Muitos jovens teem morrido ou sendo presos por engano, pois por apenas
serem negros já são taxados como bandidos.
Vamos desmitificar isso, quando você vier numa
rua não tenha medo apenas do negro, pois pessoas brancas também matam, roubam e
estupram. É mais fácil você ser assaltado por algum bandido de colarinho branco
do que por um garoto de seus 13 anos que esteja vestido de forma precária,
morador de periferia e negro. Não podemos criminalizar uma pessoa só por ela
ser pobre e/ou negra, pessoas formadas e filhas da elite também roubam e sabem
roubar muito bem.
Eu desenvolvi amor pela cultura
afro-brasileira, pois sua cultura é linda. As musicas, as danças, o olhar, a
belezas e tantas dificuldades enfrentadas deve nos fazer repensar. Quando eu
era criança que eu via rodas de capoeira, eu olhava de uma forma, hoje depois
de adulta eu olho encantada. Uma simples dança de roda tem o poder de me
contagiar e me convidar não so para entrar na dança mas a repensar tantas
desigualdades históricas.
Eu quero entrar num hospital seja ele público
ou particular, ser atendida por um médico negro. E quando sair as fotos de
formandos - eu quero ver muitas pessoas negras sorrindo e felizes ao comemorar a
formatura. Quero ver o negro sendo doutor ate nas novelas em horário nobre. Quero
que os livros de história conte a todos o heroísmo de muitos negros, as lutas
para criarem uma comunidade quilombola, luta essa que segue ate hoje para
manterem seus territórios.
Eu quero que toda vez que os tambores da danças
afros começarem a tocar, as pessoas possam dançar e sem ter aquele preconceito
religioso de sempre. Quero que os policiais tratem com igualdade a todos e que
eles não julguem pessoas suspeitas por uma cor de pele. Quero políticas
públicas especiais, uma educação que valorize a cultura afro-brasileira e que
zumbi seja exemplo de persistência e resistência. Que as pessoas brancas parem
de ter orgulho de serem brancas, tenham orgulho de seu caráter e não da cor de
sua pele, pois todos nós temos sangue indígena e sangue negro. Nós somos o
escravo que eles não conseguiram matar, somos o índio que eles não conseguiram
exterminar. Tenham orgulho de seu povo!
Jéssica Cavalcante
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