
A arte de dar a volta por cima
Resiliência é o nome dado na psicologia à capacidade de ser flexível frente às adversidades e aprender com os próprios erros.
Por Tereza Kawall
Resiliência é o nome dado na psicologia à capacidade de ser flexível frente às adversidades e aprender com os próprios erros.
Por Tereza Kawall
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"Aquilo que não me destrói me
fortalece", ensinava o filósofo Friedrich Wilhelm Nietzsche. Este poderia
ser o mote dos resilientes, aquelas pessoas que, além de pacientes, são
determinadas, ousadas, flexíveis diante dos embates da vida e, sobretudo,
capazes de aceitar os próprios erros e aprender com eles
Sob a tirania implacável do relógio,
nosso dia a dia exige grande desgaste de energia, muita competência e um número
cada vez maior de habilidades. Sobreviver é tarefa difícil e complexa,
sobretudo nos grandes centros urbanos, onde vivemos correndo de um lado para
outro, sobressaltados e estressados. Vivemos como aqueles malabaristas de circo
que, ofegantes, fazem girar vários pratos simultaneamente, correndo de lá para
cá, impulsionando-os mais uma vez para que recuperem o movimento e não caiam ao
chão.
O capitalismo, por seu lado, modelo econômico dominante em nossa cultura, sem nenhuma cerimônia empurra o cidadão para o consumo desnecessário, quer ele queira ou não. A propaganda veiculada em todas as mídias é um verdadeiro "canto da sereia"; suas melodias repetem continuamente o refrão: "comprar, comprar, comprar".
O capitalismo, por seu lado, modelo econômico dominante em nossa cultura, sem nenhuma cerimônia empurra o cidadão para o consumo desnecessário, quer ele queira ou não. A propaganda veiculada em todas as mídias é um verdadeiro "canto da sereia"; suas melodias repetem continuamente o refrão: "comprar, comprar, comprar".
Juntam-se a isso o trânsito caótico, a
saraivada cotidiana de más notícias estampadas nas manchetes e as várias
decepções que aparecem no dia a dia, e pronto: como consequência, ficamos
frágeis, repetitivos, desesperançados e perdemos muita energia vital.
Se de um lado a tecnologia parece estar a nosso favor, pois cada vez mais encurta distâncias e agiliza a informação, de outro ela acelerou o ritmo da vida e nos tornou reféns de seus inúmeros e reluzentes aparatos que se renovam continuamente. E assim ficamos brigando contra o... tempo!
Se de um lado a tecnologia parece estar a nosso favor, pois cada vez mais encurta distâncias e agiliza a informação, de outro ela acelerou o ritmo da vida e nos tornou reféns de seus inúmeros e reluzentes aparatos que se renovam continuamente. E assim ficamos brigando contra o... tempo!
Haja resiliência! Essa é com certeza
uma expressão adequada aos dias de hoje. Só a paciência já não basta. Além de
pacientes, precisamos ser determinados, confiantes, ousados e ao mesmo tempo
flexíveis e conscientes para manter os problemas em perspectiva - alguns têm
solução, outros não -, deixar que o tempo se encarregue de mostrar os caminhos
e, sobretudo, aprender a olhar de forma diferente para eles e achar novas
maneiras e estratégias de contornar as adversidades.
A resiliência é caracterizada por um conjunto de atitudes adotadas pelo ser humano para resistir aos embates da vida. Esse termo se origina de uma ciência exata, a física, e significa a capacidade que os corpos têm de voltar à sua forma e estado originais, depois de serem submetidos a um grande esforço ou pressão externa.
A resiliência é caracterizada por um conjunto de atitudes adotadas pelo ser humano para resistir aos embates da vida. Esse termo se origina de uma ciência exata, a física, e significa a capacidade que os corpos têm de voltar à sua forma e estado originais, depois de serem submetidos a um grande esforço ou pressão externa.
O indivíduo pode ser mais ou menos
resiliente, se levarmos em conta fatores intrínsecos de personalidade, valores,
educação ou heranças parentais. Nossa cultura ocidental sempre deu um enorme
valor à figura do herói, apresentando- o como um ser que deve superar situações
de extrema dificuldade para proteger a própria vida, para salvar algo ou
alguém. Na mitologia, temos o arquétipo do herói que passa por inúmeras
provações, desafios físicos e morais e que, ao final de sua saga, voltará
transformado, trazendo uma mensagem de verdade e esperança.
O sofrimento, as perdas e frustrações são inevitáveis durante a vida, e não há ninguém que possa dizer que não passou por eventos difíceis e traumáticos durante seu desenvolvimento. Para certas correntes psicanalíticas, o próprio nascimento já é, em si, um evento traumático, envolvendo medo, alterações fisiológicas súbitas, dores e riscos.
O sofrimento, as perdas e frustrações são inevitáveis durante a vida, e não há ninguém que possa dizer que não passou por eventos difíceis e traumáticos durante seu desenvolvimento. Para certas correntes psicanalíticas, o próprio nascimento já é, em si, um evento traumático, envolvendo medo, alterações fisiológicas súbitas, dores e riscos.
A atitude resiliente pressupõe um discernimento que
advém de experiências anteriores
O psicanalista austríaco Otto Rank
afirma que "somos todos heróis ao nascer, quando enfrentamos uma tremenda
transformação, tanto psicológica quanto física, deixando a condição de
criaturas aquáticas, vivendo no fluido amniótico, para assumirmos, daí por
diante, a condição de mamíferos que respiram o oxigênio do ar e que, mais
tarde, precisarão erguer-se sobre os próprios pés" (do livro O poder do mito, de Joseph Campbell).
A superação dos desafios é, sem dúvida, muito importante para se chegar a algum lugar, seja num contexto intelectual, profissional ou financeiro, tendo em vista que na natureza como um todo os melhores e mais fortes serão os vencedores.
A superação dos desafios é, sem dúvida, muito importante para se chegar a algum lugar, seja num contexto intelectual, profissional ou financeiro, tendo em vista que na natureza como um todo os melhores e mais fortes serão os vencedores.
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Disse um mestre: "Não podemos
evitar as ondas do oceano, mas podemos aprender a surfá-las." O surfista
tem jogo de cintura, agilidade, presença de espírito, amor pelo esporte,
conhece o mar, conhece os ventos favoráveis e sabe a hora de pular fora da
onda, pois logo atrás já vem vindo outra!
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A atitude resiliente, no entanto, não é
sinônimo de força ou coragem no sentido mais egoico ou heroico do termo. Ela
pressupõe também uma sabedoria e uma criatividade, um discernimento que aparece
como consequência de experiências anteriores, algo que também é um ganho, à
medida que as adversidades vão criando uma espécie de "musculatura
interior".
Numa pessoa resiliente devem estar presentes a capacidade de adaptação e a flexibilidade perante o seu destino. Ela deve ser capaz de promover as mudanças necessárias quando elas são inevitáveis.
A resiliência pode e deve ser exercitada; ela não é algo simplesmente herdado ou um traço de personalidade. Como podemos fazer isso? Aqui vão algumas dicas para se treinar a resiliência:
Numa pessoa resiliente devem estar presentes a capacidade de adaptação e a flexibilidade perante o seu destino. Ela deve ser capaz de promover as mudanças necessárias quando elas são inevitáveis.
A resiliência pode e deve ser exercitada; ela não é algo simplesmente herdado ou um traço de personalidade. Como podemos fazer isso? Aqui vão algumas dicas para se treinar a resiliência:
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Aceitação - Em primeiro lugar, não negar o problema quando
ele bate à sua porta; a negação só faz aumentar seu tamanho, assim como
acentuar a resistência para as mudanças. As soluções podem começar a aparecer a
partir dessa compreensão.
Controle -
Uma vez que a vida é inexoravelmente mutável e transitória, as reações de
controle e de apego são ineficazes. Bem ao contrário do que se pensa, exercer
muito controle sobre tudo e todos não é uma solução; os eventos da vida têm um
curso próprio que independe da nossa vontade e da nossa opinião. Respeitar o
curso natural das coisas nada tem a ver com uma atitude de resignação.
Significa simplesmente não nadar contra a corrente dos fatos. Por outro lado, o
criticismo exagerado e a expectativa utópica em relação a resultados são uma
porta aberta para as desilusões. Reconhecer e assumir as próprias fraquezas e
incompetências é, antes de tudo, um ato de coragem.
Aprendizado - Adotar uma perspectiva de entendimento e
aprendizado, quando algo traz muita contrariedade ou angústia. Há muitas
maneiras de sofrer: para começar, podemos sofrer com inteligência ou com
burrice! Na primeira, há mais crescimento e dignidade; na segunda, a pessoa se
coloca na posição de vítima e desencadeia uma busca incessante de culpados,
assumindo uma postura errônea, que acaba por paralisar sua vida. As
experiências difíceis são de grande valia, pois criam "anticorpos"
que nos protegerão em outras possíveis situações de risco. Toda sabedoria bem
absorvida funciona como uma imunização. Da mesma forma, o trabalho psicoterapêutico
eficiente pode mostrar que não precisamos nos identificar com o sofrimento ou
com os padrões negativos, mas podemos, sim, examiná-los, compreendê-los e
aprender com eles.
Tecnologia -
Use todo e qualquer instrumento tecnológico sempre a seu favor e empregue o seu
discernimento para não se tornar refém das tecnologias. O excesso de informação
é estressante, leva à dispersão e não pode nunca substituir com vantagem o
contato pessoal, o afeto e a convivência com as pessoas queridas.
Preocupação - John Lennon dizia que "a vida é uma coisa
que acontece, enquanto você fica preocupado, fazendo planos". Assim, não
se preocupe demais com o futuro. Sofrer por antecipação é um dos hábitos mais
negativos do homem contemporâneo. A ansiedade é corrosiva para a saúde, afeta o
sistema imunológico e sua base é o medo e a falta de confiança. O pânico, as
fobias e a depressão são os sintomas da demolição dos nossos esquemas mentais
de segurança.
Não há fórmulas mágicas para superar crises e dificuldades, sejam elas quais forem. Mas o indivíduo resiliente tem um diferencial na sua forma de atravessar esses momentos. Concentração, foco e tolerância podem moldar um jeito diferente de olhar os nossos problemas. Felicidade é também um modo de interpretar a realidade.
Não há fórmulas mágicas para superar crises e dificuldades, sejam elas quais forem. Mas o indivíduo resiliente tem um diferencial na sua forma de atravessar esses momentos. Concentração, foco e tolerância podem moldar um jeito diferente de olhar os nossos problemas. Felicidade é também um modo de interpretar a realidade.
Bibliografia
- Aprenda a relaxar, Mike George, Ed. Gente
- Mente alerta, Jon Kabat-Zinn, Ed. Objetiva
- Stress a seu favor, Susan Andrews, Ed. Ágora
- Em busca do sentido, Viktor Frankl, Ed. Vozes
- Aprenda a relaxar, Mike George, Ed. Gente
- Mente alerta, Jon Kabat-Zinn, Ed. Objetiva
- Stress a seu favor, Susan Andrews, Ed. Ágora
- Em busca do sentido, Viktor Frankl, Ed. Vozes
FONTE:REVISTA PLANETA
EDIÇÃO 449 FEVEREIRO 2010
EDITORA:TRÊS
LINK DO SITE DA REVISTA:
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